quinta-feira, 5 de junho de 2008

"Põe no cabelo uma estrela e um véu e diz que caiu do céu."

Ela era bailarina, já cansaram de afirmar; fazia o possível para continuar dançando mesmo que o público muitas vezes não se desse conta do espetáculo. Dessas princesas sem coroa que flutuam como pluma dourada sobre um chão de cristal. As sapatilhas eram coloridas com vidrilhos azuis e cheiravam a flor carmesim, dançava e os brincos faziam tlin-tlin. A bailarina vivia a rodar, fazia o mundo girar mais rápido e trazia o tempo entre os pés. Tempo esse que acreditava ser a dona até que; até.

Chegou ele. Ele. Com as flores entre os dedos cheirando a violetas, chapéu na mão e roupas com perfume de jasmim. Sem ação, a bailarina se perdeu, parou de girar, perdeu o controle do tempo, tamanho era o peso do coração que trasbordou todo aquele sentimento sem nome, aquele que ocupava todo o espaço, e lhe caiu nos tornozelos fazendo com que dançar não fosse mais possível. O que seria de uma bailarina que não pode dançar? Mas o amor tem dessas coisas, de nos grudar na terra, pisotear-nos enquanto nos beija com lábios de caramelo.

Com toda essa ternura por todos os cantos, com as pernas, braços e pontinha do nariz dormente, a bailarina não acreditou que o peso do amor às vezes fortalece as pernas e acelera o coração ao invés de quase fazê-lo parar. Ou vai ver faz com que pare de fato e tudo fique estático só com olhares. Não era ela, afinal, quem estava dormente, era o mundo que entrou numa dormência por causa de todos os sentidos, pelos olhos que o amor pede, pelos ouvidos que ele demanda, pelo tato inerente, pelo perfume sem explicações e pelo gosto açucarado de felicidade esperada.

Pois bem, a bailarina voltou a dançar, com jasmins esfolhados sobre os pés flutuantes, sapatilhas manchadas de flor carmesim e aqueles brincos fazendo tlin-tlin. O coração era música, e ela olhava para o mundo gigantesco guardado no cantinho do peito de flor em botão.

2 comentários:

Anônimo disse...

Além de me ler (melhor do que eu!), agora vc me escreve...

Na verdade me pinta, com mao firme e uma aquarela muito mais colorida. No fim até que gosto do resultado. Não sou eu, mas é quem eu gostaria de ser.

Obrigada.

Anônimo disse...

Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.




"Com ele eu sou criança... com ele eu sou mais eu"