quarta-feira, 30 de julho de 2008

Assovia o vento

São novos tempos esses revoltos que sacondem nossos cabelos! É possível, com certo esforço dos esperançosos e crentes dos sorrisos dos meninos do samba "lapiano", sentir o vento fresco vindo dos cafundós das gargantas mornas em plenas gargalhadas. Ah. Ah! Tudo isso deve ser culpa do vento, como de costume, que vem passeando pelas nossas pernas como dedos ligeiros e espertos. Mas nada disso me impressiona. Esse vento vai ter que fazer muito para desviar meus olhos dos do alheio, tão doces e, arrisco, cheirosos - mesmo que isso não seja possível aos olhos dos mais burocráticos.
Então vamos adiante...
"... Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento em minha cara."


p.s.:fico devendo um texto mais completo, mas é que esse blog está se tornando cada vez mais um lugar onde jogar emoções.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Next stop: my station

O metrô tem seus defeitos das 6 da tarde, mas o que eu mais gosto são as pessoas sentadas em fila, meio que sonhando com o nada, meio que pensando num sonho... Com seus óculos escuros, seus bonés escondendo os olhos e narizes, os cabelos desgrenhados e a falta de cabelos. Tudo isso durante o momento mais reflexivo, agridoce e esperançoso do dia.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Liga da Justiça... gramatical

Era mais um dia comum na Portuguelândia. A Mulher Gramática (manterei sua identidade em sigilo) passava uma tarde no parque com seu complemento nominal. Aproveitavam o dia ensolarado e o céu azul turquesa para transformar o ar fresco em palavras muito leves e em mesóclises muito queridas. Porém, tudo estava prestes a mudar. O Alerta Aurélio foi disparado denunciando que um crime terrível estava as portas de acontecer na cidade, e ela teve que partir. Era muito cruel para a Mulher Gramática deixar seu complemento nominal e se tornar intransitiva de forma tão cruel e desalmada. A Vida, substantivo próprio, nunca tinha de fato a pertencido; ela é que fazia parte da vida alheia sem que o mel de outros olhos fossem de fato seus, ou sem que ela pudesse também ser o complemento de alguém.

A emergência na cidade se tratava do grande vilão, o Dr. Inscrivinhante, que corrompia criancinhas loucas por açúcar para o uso errado de acentos e atirava proparoxítonas nos pais desesperados que tentavam se proteger com simples escudos pronominais. Vã tentativa, os erros de português do Dr. Inscrivinhante amarguraram as águas dos rios assim como o coração dos habitantes. A cidade tinha se tornado um depósito de cinzas negras de antigos corações amantes de regras que costumavam fazer das palavras sem nexo companheiras de ausências.

A Mulher Gramática se deu conta do momento ímpar pelo qual a cidade passava; e os problemas iam além de erros gramaticais. Falando e escrevendo com tantos erros, cada habitante acabava por criar uma língua própria e se afundando na solidão de universos particulares em forma de bolha. Nossa heroína finalmente se deu conta que o Dr. Inscrivinhante queria deixar esse mundo, vasto mundo, mudo. Sendo assim, ela se armou, respirou coragem, para que se espalhasse pelos pulmões e pelo sangue, e deu início a uma das maiores batalhas entre Perspicácia e Ignorância (duas gigantes, as armas da Mulher Gramática e do Dr. Inscrivinhante) jamais vista.

A briga foi árdua. Os pessimistas apostavam na força da Ignorância, em como ela era uma força primeira, onipresente, enquanto os otimistas, mesmo fundamentados na bravura da Perspicácia e em sua inteligência, tinham suas dúvidas quanto a vitória. Era de conhecimento geral que a Ignorância era complacente e tornava o mundo mais agradável para os que nela viviam, só não acreditavam, ou se recusavam a enxergar, que a inteligência ilhada por Ignorância de nada serve.

Mulher Gramática sentia-se fraca, com pernas de chumbo, cansada de travar uma luta pelos livros e para as palavras; desiludida. Nesse momento de descrença lhe veio à mente uma arma usada em poucas ocasiões, somente em momentos propícios e necessários de fato: o raio de Neologismo. Essa arma, inventada há séculos, era uma das maiores criações da Perspicácia e só em momentos ímpares, quando não existia nada mais para ser usado, o raio era a arma da vitória.

O Neologismo teve o resultado além do esperado. Dr. Inscrivinhante não resistiu ao seu próprio veneno, a invenção de palavras, misturada com a sagacidade que só a Perspicácia possui. Aos poucos as crianças voltaram à escola e a cidade foi reconstruída. Os complementos, tanto verbais quanto nominais, voltaram aos seus lugares de direito, os acentos fugitivos estavam outra vez na Prisão dos Colchetes e Parênteses e até as aspas puderam voltar a cumprir o papel designado pelos “homens do poder”. A vida voltava ao normal, até a Mulher Gramática e seu complemento nominal passaram a virar uma locução adjetiva para, depois de algumas borboletas amarelas, virarem um singelo e açucarado adjetivo.

E o mundo do português estava a salvo mais uma vez!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Molico way of life??

O efêmero é especial, singular, brilhante, doce e raro, obviamente. E é para que assim continue ou então seria da mesma beleza que um “bom dia”; a rotina é inimiga mortal da efemeridade. Se o comum vira raro e vice versa, os conceitos se trocam totalmente, mas ainda continuam a dizer a mesma coisa. A grande questão e raridade da efemeridade se localizam em tornar encontros quase diários (e doces demais para que não sejam rotina) tenham a mesma beleza, e brilho, e frescor que a efemeridade possui, só que sem perdê-la no final de cada dia. É possível prolongar o gosto que o efêmero deixa na boca por todo um dia? Até que ponto é crível, sendo vítima, prendê-lo para que não saia pelos poros e que não reflita pureza nos dentes? É plausível engoli-lo e fazer uma antropofagia de quem proporciona condição do efêmero para não perdê-lo mais? Para a última questão, pelo menos, a resposta afirmativa me parece provável.

É como uma assimilação da pessoa menos que do sentimento em si. É guardá-lo numa caixinha lilás no canto da estante para que não vá embora e, assim, tornar a sensação que lhe foi causada como própria, até porque aconteceu com e em você. Aquilo passa a ser parte sua e algo que ajuda a te definir.

Mas essa antropofagia sentimental (ou não) beira o perigo instantâneo e inegável. O amor pela aventura vai sempre existir, assim como a necessidade da segurança. Ao mesmo tempo em que nos jogamos no mundo, ao mundo, acabamos por optar muitas vezes pelo esconderijo, só que o efêmero não vem para quem vive enfiado num buraco escuro e fétido cavado pelo medo. Joguem suas caras ao vento, sejam o vento em suas caras. Mesmo que eu assim não aja, é o que eu gostaria de fazer e continuo trabalhando por. Quando o efêmero vira parte de nós e passa, assim, a estar em qualquer lugar que você esteja (porque é você mesmo) o efêmero vira o mundo e o vento e é ele que meneia as saias com os dedos doces e cheios de idéias. Não se tem mais como ou porque fugir.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

"Põe no cabelo uma estrela e um véu e diz que caiu do céu."

Ela era bailarina, já cansaram de afirmar; fazia o possível para continuar dançando mesmo que o público muitas vezes não se desse conta do espetáculo. Dessas princesas sem coroa que flutuam como pluma dourada sobre um chão de cristal. As sapatilhas eram coloridas com vidrilhos azuis e cheiravam a flor carmesim, dançava e os brincos faziam tlin-tlin. A bailarina vivia a rodar, fazia o mundo girar mais rápido e trazia o tempo entre os pés. Tempo esse que acreditava ser a dona até que; até.

Chegou ele. Ele. Com as flores entre os dedos cheirando a violetas, chapéu na mão e roupas com perfume de jasmim. Sem ação, a bailarina se perdeu, parou de girar, perdeu o controle do tempo, tamanho era o peso do coração que trasbordou todo aquele sentimento sem nome, aquele que ocupava todo o espaço, e lhe caiu nos tornozelos fazendo com que dançar não fosse mais possível. O que seria de uma bailarina que não pode dançar? Mas o amor tem dessas coisas, de nos grudar na terra, pisotear-nos enquanto nos beija com lábios de caramelo.

Com toda essa ternura por todos os cantos, com as pernas, braços e pontinha do nariz dormente, a bailarina não acreditou que o peso do amor às vezes fortalece as pernas e acelera o coração ao invés de quase fazê-lo parar. Ou vai ver faz com que pare de fato e tudo fique estático só com olhares. Não era ela, afinal, quem estava dormente, era o mundo que entrou numa dormência por causa de todos os sentidos, pelos olhos que o amor pede, pelos ouvidos que ele demanda, pelo tato inerente, pelo perfume sem explicações e pelo gosto açucarado de felicidade esperada.

Pois bem, a bailarina voltou a dançar, com jasmins esfolhados sobre os pés flutuantes, sapatilhas manchadas de flor carmesim e aqueles brincos fazendo tlin-tlin. O coração era música, e ela olhava para o mundo gigantesco guardado no cantinho do peito de flor em botão.

domingo, 16 de março de 2008

Cotas para heterônimos: Namarië

Porque essas palavrinhas aí têm, pelo menos, 3 anos de vida. Num momento, digamos, pós-Soldado.



Nas minhas longas tardes de ócio, sentada naquela cadeira verde, engordando que nem uma porca naquele apartamento que, às vezes, parece cheirar a velhice, eu me enxergo como uma mulher de verdade. Anos e anos para chegar nesse patamar de desenvolvimento, de caso e namoro comigo mesma. Paixão antiga e que demorou muito para virar realidade. Parecia que sempre tinha alguma coisa atrapalhando nosso namoro, alguém sempre impedia. Teimavam em ocupar meu coração, até que num belo dia meus olhos se abriram, é bem verdade que a claridade me machucou as retinas, me riscou o rosto e chegou fundo no coração , mas eu acordei. Limpei a lama, o coração ficou vazio e descansado e finalmente quem o ocupou fui eu mesma. Hoje em dia faço questão de só ocupá-lo com quem realmente merece, coração não é lugar de bagunça, de enfiar qualquer um lá dentro. Saber separar quem é digno de ocupar um espaçozinho nele não é coisa fácil. No final das contas o complicado da vida não é saber quem colocar dentro do coração, – coisa q mais cedo ou mais tarde , creio eu , todos nós aprendemos - o difícil mesmo é saber conviver com a dor que as coisas que você deixou penetrarem no coração provocam. Isso sim é um grande desafio. Eu acho que é nisso que a vida se resume: continuar respirando e perceber que, mesmo com os defeitos que provocam feridas, essas pessoas ou coisas estão no nosso coração por um motivo inegável. Nós amamos. Bem, a dor, as coisas ruins, segundo a minha avó, sempre aconteciam por um motivo que seria claramente comprovado no futuro, mas eu estou longe de acreditar nessas máximas sobre o destino. A única coisa que eu posso comprovar sobre as coisas ruins que acontecem com a gente é que elas nunca vêm sozinhas, sempre trazem mais meia dúzia de catástrofes para minha vidinha simples e pacata .

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Cordofones... vocais ou não

Os dois estavam parados, um em cada canto da sala amarelada pela luz do pôr-do-sol. Ela temerosa, ele em outro lugar, distante, ela assim julgava. As janelas daquele apartamento que beirava as alturas estavam abertas, um vento passou carregando as partituras de cima da mesa e jogou-as no chão. Uma porta bateu sem que ela soubesse dizer onde.

Ganhou coragem, estalou os dedos. Havia um tempo que não o procurava e o nervosismo foi se acumulando na ponta das unhas. Na verdade não era falta de tempo, mas sim um crença descabida na incapacidade e talvez medo da confirmação dessa incapacidade. Ela andou até ele e o tirou do transe. Não podia esconder o fascínio, o nervosismo de examiná-lo numa devoção tão descabida quanto o medo. Sentou-se com ele acomodado sobre ela, deixando-se abraçar com ternura pelos braços finos, lânguidos e tão femininos. Se deixou explorar, quieto, sem emitir um singelo som. Os dedos finos e fortes de musicista passavam pelas curvas e deslizavam com doçura.

Era assim que ela gostava de ficar nos finais de tarde cansativos. O silêncio que tanto gostava entre eles, o silêncio de conforto, ele acomodado entre suas pernas, deitado sobre o peito e assim ela virava a senhora, a única, com os cabelos sendo lambidos pelo ar morno, a barra da saia que se sacudia ao dissabor do vento. Prendeu os cabelos e daí por diante era difícil saber quem sofria as ações de quem. Mais parecia uma dança.

Ela fechou os olhos, segurou-o mais de perto e com o andar dos dedos o trazia até a epiderme, e assim o trazia como queria; aos risos ou prantos (que não são assim tão distantes), como ela quisesse, com cócegas. O alegre e o triste dependiam e pendiam do coração e dos dedos dela que, com aquele arco, tirava a própria doçura ou amargura através de um violoncelo, numa paixão de tudo e de si mesma. E cada partitura que terminava, cada página que era virada, era o fim outra vez. Possivelmente era disso que ela tanto gostava. O começo e o fim, a doçura e a ruptura, tudo numa singela música. Esse turbilhão de emoções; de repente, não mais que de repente.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Ah, essas revoluções pessoais...

O céu estava azul, pelo menos era o que a luz refletida no chão de cimento fazia parecer. Era a única entrada de ar e, pelos motivos óbvios, ficava no alto e era pequena. Na medida em que o sol mudava de posição, a luz se aproximava de seu rosto até que encontrou seus olhos e o despertou. Um dia novo na vida velha.
Tudo estava como de costume na cela cinza que era seu lar há dez anos. Ele continuava naquele espaço onde conhecia todas as rachaduras do cimento do chão e onde as paredes descascadas formavam desenhos que ele reconhecia de olhos fechados; ele e seu colega de cela, Maruli.
A noite tinha sido complicada. Uma nevasca inesperada de começo de Primavera caiu durante toda a noite. Comentavam que há décadas não era registrado tanto frio nessa época do ano. O sol do dia seguinte, com aquela intensidade, fazia com que o frio da noite anterior fosse uma antiga, distante lembrança. Contudo a questão que afligiu a todos naquele dia foi algo inexplicável. Até hoje comentam o que teria acontecido para que, do dia para a noite, Samuel só falasse rimando. Era contra a sua vontade, já que não sabia escrever ou ler, o fato de até obedecer à métrica e toda vez que quisesse falar sobre algo ele o fazia em forma de soneto.
Os mais supersticiosos associaram esse novo hábito de Samuel com a nevasca incomum. Outros diziam que era culpa da Aurora Boreal e os mais crentes em poesia acharam que ele tinha simplesmente tomado gosto por uma parte singular da vida. Esses mesmos poetas da Ala B quiseram, através de Samuel, provar que todos podem ser poetas, mas desistiram depois que se deram conta da provável perda de status que teriam por não mais “deterem” a poesia. Assim os poetas da Ala B trataram de criar o apelido de Bem-te-vi para Samuel e divulgar como aquele comportamento era estranho. Em alguns dias passou a odiar seu novo modo de falar e a forma como o tratavam não ajudava em nada.
Na primeira semana acharam que os poemas de Samuel era uma forma de se comunicar em código sobre alguma fuga. Proibiram que falasse dessa forma e, como era só assim que conseguia falar, fez consigo mesmo um voto de silêncio. Só Maruli parecia apreciar a fala de Samuel e o fazia com um brilho no olhar digno de uma criança. Ele sim parecia ter tomado gosto por essa parte singular da vida.
Aos poucos foram se esquecendo do novo dom de Samuel, até porque ele se mantinha em silêncio, mesmo com os protestos de Maruli. Esse, aliás, implorava toda noite para que eles conversassem e, mesmo relutante, Samuel o fazia. Via no amigo uma pessoa com quem simplesmente pudesse conversar sem ser julgado, além de poder falar nessa língua de poemas de som tão doce e fresco com que tinha se acostumado e aprendido a gostar.
Maruli era sem dúvida seu maior fã. Sabia ler e escrever e, subornando alguns guardas, conseguiu papel e lápis para ensinar o amigo a também poder ler e escrever. Conseguiu, mesmo com certa dificuldade, já que não era bom professor e só podiam estudar na parte da noite. No entanto, em pouco tempo Samuel já conseguia passar seus poemas para o papel, mesmo com alguns erros. E assim ele virou poeta.
Maruli dizia que era visível a mudança do amigo. Os olhos brilhavam com mais força, já que ele sabia fazer a amargura e a solidão saírem pelas pontas dos dedos. Dizia até que Samuel era capaz de fazer de uma ofensa uma obra de arte e que poucos eram capazes de fazer injúrias e ter o coração doce.
Na semana seguinte correram boatos sobre uma fuga em massa. Diziam que cavavam um buraco na Ala A que levaria direto para bem longe das celas e onde, de fato, eles poderiam ver a lua de forma descente. Um dia antes do que seria a grande fuga, com medo doa boatos serem verdadeiros, foi ordenada uma revista geral em que acabaram achando o tal buraco. Mesmo o caminho de fuga começando bem longe de sua cela, Samuel foi acusado de ser um dos mentores da fuga por causa de motivos escusos e que, diziam, tinham a ver com as vontades dos poetas da Ala B.
Samuel foi interrogado e nada disse, e nem poderia dizer quem nada fez. Em represália ao silêncio, métodos, digamos, não-ortodoxos foram adotados. Entenda, o ódio também deve ser extravasado; e existem muitas maneiras de fazê-lo.
Convencidos de que aquela fuga tinha algo a ver com o principal homem procurado pela polícia, eles logo o associaram à Samuel, que nada dizia. Assim, jogos psicológicos, gritos e outras medidas não convencionais de interrogatório foram tomadas. Samuel parou de rimar, involuntariamente, da mesma forma que começou. O brilho sumira e a solidão e a amargura pareciam cada vez mais retidas nas pontas das unhas e, se acumulando, passavam pelo peito, boca e olhos. Maruli estava desolado por ver seu amigo daquela forma, com olhos cinza de raiva e cansaço. Quando as pessoas pareceram perversas demais não existia muito em que acreditar.
Samuel andava cada vez mais apático com os interrogatórios que continuavam sem que soubessem se era devido a algo substancial, ao hábito ou raiva que saia pelos dedos desses homens, cravando as unhas. E, dessa forma, ele voltou ao voto de silêncio.
Mas assim como a nevasca aparentemente trouxe doçura com flocos brancos, no final do Verão uma chuva destruidora caiu na região; e caiu por três dias seguidos. Maruli ficou um dia inteiro do lado de fora tomando chuva e gritando os poemas de Samuel que já tinha decorado. Os poetas da Ala B riam e comentavam que a loucura reservada pelos homens do interrogatório para Samuel acabou passando pelo ar e suor para Maruli. Ele só voltou para a cela no meio da noite quando Samuel, indignado e ainda em silêncio, ficou parado na frente do amigo fitando-o nos olhos por cinco minutos. Maruli abaixou a cabeça, deu um sorriso e voltou com Samuel para a cela.
Depois da grande chuva as Alas mais pareciam cercadas por verdadeiros jardins imperiais. Os homens do interrogatório finalmente acharam o culpado da possível fuga do lado de fora. Samuel finalmente foi deixado em paz, para satisfação de Maruli, mas continuou em silêncio. Diziam que era para aumentar a fama que ele já possuía de ser desses homens que conseguem fazer da natureza um reflexo do peito, mas Samuel preferia continuar quieto por simplesmente não sentir necessidade de sair do silêncio. Antes ele se sujeitava a isso por revolta e para parecer mais forte enquanto as lágrimas encharcavam as maçãs do rosto, mas agora não.
Era possível dizer que Samuel virou um desses que, digamos, estranha a própria alma. Se antes demonstrava amor à poesia, ou até mesmo à Maruli, agora tinha passado a amar tudo; as árvores com suas folhas que caem nas calçadas, os pássaros e seus cantos aos domingos de manhã e o sol cheio de carícias com suas mãos mornas em nossos rostos. Talvez agora gostasse de tudo porque justamente tudo cheirava à poesia. Samuel virou uma figura mitológica que em seus “tratados poéticos” escrevia verdadeiras cartas de amor e, como deveria ser, todas ridículas. Naturalmente, assim como esses sentimentos esdrúxulos.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Carta para uma chilena; parte 2

Monróvia, 8 de fevereiro de 2008

Querida MJ,


Recebi sua carta com muita felicidade. Sua troca de pele, seu processo de renovação salta aos olhos e fica evidente no seu modo de escrever. Fico mais feliz ainda por saber que quando chegar em casa vou me deparar com uma amiga de coração livre. Seu período sabático em Casablanca foi inspirador e refrescante. Pude sentir a água nos seus pés enquanto você descrevia como o mar lhe deu um banho de esperança e ar puro. É interessante e doce passar pela experiência de ter um coração novo e cheio de ternura para preencher; e eu falo isso com propriedade, você sabe.
Vim para a África num misto de curiosidade e enjôo. Não sabia que era possível buscar um pouco de amargura para misturar a ternura com a realidade. É interessante como nós mesmos tentamos trazer nossos pés de volta à terra calejada e dura de tristeza, onde os olhos muito raramente espelham satisfação. Mas no entanto, outra parte de mim faz questão de deixar claro que estou aqui para me afogar na tal ternura. Para aprender com essa gente melancólica e, ao mesmo tempo, cheia de esperança. E isso cada vez mais parece se consolidar como a verdade e vai se transformando na principal experiência que a Libéria me proporcionou. Se sua caixinha lilás está vazia, a minha ficou abarrotada de sorrisos magros e olhares desconfiados. Mesma cheia de olhares tristes, vai ser muito difícil deixar essas pessoas para trás, essa gente nua de corpo e de alma. Arrisco dizer que esse é o estado mais puro que um coração pode chegar. Eu tinha a mania de, assim que acordava, colocar da forma que fosse, alguma música para tocar na janela do meu quarto. Pouco importava qual música tocava, só a satisfação do ritmo para eles era suficiente. Posso estar pintando um quadro que nada tem a ver com a realidade, mas assim me parece e é a inocência, talvez desses olhos de quem vê, que eu quero guardar.
Pois bem, é hora de partir. Algumas coisas estão ficando com as crianças, outras novas estou levando. Tudo já está em duas malas e, imaginando seu apartamento em Casablanca cheio de caixas e livros (tenho certeza) por todos os lados, eu acabei com saudade da minha casa com mesas de pés de livros e um pedaço de madeira como tampo. E, antes que você pergunte, todas as minhas caixinhas coloridas estão voltando. Algumas mais vazias, outras que quase não fecham.
O vento entra pela janela do quarto, meus cabelos mais compridos voam docemente ao sabor da brisa morna vinda do mar. Eu volto para casa em dois dias e estou cheia de esperanças e expectativa! Mesmo gostando daqui, eu quero a minha água salgada, minha brisa entre as ruas e as já mencionadas risadas de madrugada. E esse mesmo vento liberiano vem me anunciando as surpresas que eu vou ter quando chegar em casa e também do lirismo que, segundo ele, está as portas da minha vida e me espera por lá.
MJ, viemos à África com objetivos diferentes e, no entanto, partimos com a mesma doçura escarlate no rosto.

Estamos indo de volta pra casa.

Tereza

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Da inocência presente e do seu coração ausente

14 de fevereiro de 2008


Antônio Bento,


Já era noite e nada se movia. Nem as flores, as árvore, e nem ocê aparecia. Pois és um moreno desalmado, que com meia dúzia de cuidados e palavras de Arlequim me afogou em borboletas laranjas e amarelas com cheirinho de jasmim.
Pois venho por esta carta deixar claro que, seu moreno desalmado, tenho coração de cristal transparente e ocê, se revelando essa serpente, me picou com o desamor. Ora vejam se isso é papel de um sonhador?!
No começo era um beija-flor, um daqueles poetas com ardor e eu, ai de mim, com a inocência de botão, me deixei levar por um folião de uma terça-feira de Carnaval. Mal sabia eu que era uma quarta de cinzas.
Fui desavisada, me encantei pelos olhos de alvorada e fui vencida pelo lirismo descabido. Bem que meu coraçãozinho de advertiu, o pobrezinho, de que aquele malandro bem que podia se tornar amor. E não é que virou?!
Mas ocê pode descansar que devagar te tiro do meu peito. Eu só queria um pouquinho de respeito com essa terra em que ninguém anda! Pode aguardar, o dia há de chegar em que ocê, cheio de amor pra dar, vai bater na minha porta e eu, seu tapado desalmado, vou engolir a paixão e te fazer sofrer na minha mão.
Ocê deve ta dizendo que eu sou vingativa, que ocê não quis abrir uma ferida no coração de uma mocinha. Mas eu to no papel da iludida e foi o seu veneno que me amargurou assim.
Eu lembro do pavor, do dia em que tudo desandou, da festa em que eu descobri, meu Arlequim, que eu virei o Pierot. Ocê no meio do salão, com jeito de dono desse mundão, distribuindo sua doçura para as mulheres; e que desenvoltura! Depois veio cheio de carinho implorar pelo perdão, mas eu disse não. Ocê distribuindo doçura e pra mim jogou a amargura? Não foi sendo assim que ocê me conquistou.
Ocê provou que eu fui uma tola inocente, mas hoje eu sou descrente de tudo que ocê falou. Achei que tinha sido muito dura, que tudo foi culpa da mistura de bebida que ocê fez. Te dei outra chance, coloquei sua foto de volta na estante, mas ocê num apareceu. Num sabe a raiva que isso me deu! Te dei amor e ocê o que me deu?
Agora num quero mais saber de explicação! Desaparece nesse mundão, engolido pela terra. Num aparece mais cheio de dengo que eu vou acabar é sendo ignorante. Num bate mais na porta da cozinha com uma mísera florzinha numa mão e o chapéu defronte ao coração. Tô cansada dessa sua mania se jeito de dar beijo nos dedos para acalmar meu peito. Tô cansada dessa falta de chamego desse poeta charlatão.
Mas não, chega de confusão. Ocê não é poeta não senhor. É no máximo um rimador dessas cidades de interior. Eu quero é poeta que me guarde inteira, com direito a roseira, no coração de soneto. Ocê, rapaz desavisado, nunca provou nem um bocado de amor inocente. Se revelou uma serpente que canta música de paixão. Ah, comigo não!
Agora chega de promessas descabidas que hoje eu sou a Colombina e ocê o Pierot. O baile de Carnaval acabou e sua fantasia, ô Dalila, se desfez no chão. Eu to indo embora atrás de um poeta de verdade e ocê pare de malandragem. Cuida do coração das moças com carinho que eu te juro, mineirinho, elas vão ser só amor.
Mas chega, saia da frente que eu vou passando em procissão para encontrar um poeta, esse sim, que vai me transformar em verdadeira canção.

Com pouco amor no coração,

Eulália

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Carta para uma chilena

Monróvia, 1 de fevereiro de 08

Querida MJ,


Fico feliz em receber notícias suas, mesmo que isso ateste o quão confusa você está.
Até mesmo Dorothy, que tinha um lar longe de ser dos melhores, já dizia que “there’s no place like home”, mesmo Oz sendo um lugar lindo, com espantalhos falantes e beijos de uma bruxa boa do norte. Nunca dizemos “adeus” à nossa casa. Até porque ela está no coração dos românticos.
Ah, doce MJ, esses dias lindos em Casablanca são mais melancólicos quando estamos trancados em nós mesmos. Há tempo demais você está trancada sozinha. Cada vez menos aí e cada vez mais lá. Então volta para a água salgada, para os bares, para a rua vazia às três da manhã. Não se acanhe.
Acho interessante como você se diz vazia e esconde todo esse amor em si. O amor por esse lar que mesmo com o maior dos defeitos é seu. Você diz que não tem nada, que não vale nada, mas como diria Pessoa, eu aposto que, à parte isso, tem em si todos os sonhos do mundo.
Se você dia que mudou, eu tenho certeza que a doçura e o gosto pelo lirismo continuam os mesmos. Se diz não acreditar mais em paixões de metrô, dessas que pela velocidade do turbilhão grudam nosso estômago nas costas, é porque o apreciaria com mais delicadeza. Pode me chamar de otimista e eterna apaixonada pela vida e pelas esquinas, mas essa sua descrença se resolve com um sorriso ou um olhar dos meninos do Arpoador. Volta para casa, e marque um encontro urgente com você mesma.
Você não está áspera ou azeda, só mais seletiva, ma chére. Não entendo porque fugir tanto se foges de você mesma. Se não confia em mais ninguém é porque não confia mais em você mesma. Não eram os ares do Leblon que não mais te agradavam, alguém que com azedume encobriu o sol e te fez fugir para um retiro; e ainda te roubaram Paris nessa Casablanca desalmada.
Se suas palavras continuam mergulhadas em mel, como você pode dizer que tem o coração amargo assim? Você transborda esperança. Essa é sua cólera: sua esperança brigando com a decepção.
Volta com seus cabelos vermelhos que as minhas unhas cor de sangue, escarlates, te escrevem a última carta dessas terras africanas e diz que também está voltando. Porque meu coração não agüenta de saudades dos cabelos jogados nas cangas e das risadas que ecoam entre os prédios de madrugada.
E eu repito: que os clichês invadam, que por acreditar neles nós sejamos os seres mais previsíveis da terra... Quem liga?! We just wanna breath that fire again. E sim, clichês são assim chamados por um motivo; e são deliciosamente saborosos.


Com muita da saudade que possuo,

Tereza

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu : voyelles

Mesmo achando um perigo colocar esse texto...:

Entra na roda, moreno, com seu chapéu de palha antiga.
Entra na roda e me chama para dançar, como só você faz. Puxando-me pelo braço, não me deixando escapar.
Vai, moreno, me mostra uma coisa nova. Deixa ver o brilho dos teus olhos e que você tanto esconde. Deixa-me descobrir de que cor você é, como as vogais de Rimbaud.
E assim continuamos dançando. Eu para te descobrir, você para se esconder; para sempre. Mas, por favor, não pare.
Deixa-me sair da roda, moreno. Levando seu chapéu de palha antiga.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

un coeur sans mur

Sempre quem conta uma história junta seus cacos e os ordena. Por esse motivo pode interpretar os sinais, os atos, de forma errônea.
Sendo assim, quero deixar claro que nem a conheço muito bem. Algumas vezes dividimos o mesmo ambiente, a mesma sala; além da infância.


Era bailarina, diziam que era deusa coroada, que tinha os olhos de doçura angelical e até o diamante mais puro do mundo sentiria inveja de como ela reluzia. Tinha as mãos finas, leves como um passarinho. Mas de que adianta as asas para um pássaro que não pode, não quer voar?
Primeiro acharam que era cólera. Os sintomas eram parecidos, mas o mal-estar dos intestinos só vinha até certo horário e em certos dias. A moça vivia em meio a tios, primos, irmãos e eles, como a maioria, não sabiam diferenciar um intestino mal-criado dos males que um coração abarrotado causava ao corpo. Precisaram de um especialista - em cólera, claro – para deixar claro que o problema da moça estava no peito e não na barriga.
O pai da jovem vítima da cólera do coração fez de tudo para descobrir quem era o culpado de deixá-la naquele estado. Contratou duas feiticeiras que prometeram arrancar o verme do amor de seu coração. Não conseguiram. Foram expulsas pela própria moça debaixo de gritos e injúrias.
O dono das terras de seu coração, essa terra que ninguém anda, era um soldado muito valente. Diziam que o rapaz estava a serviço dos surdos de coração e astutos de mente. Ela recebia seus telegramas todo dia por volta das cinco horas da manhã e as vezes passava a noite em claro com as vísceras rebeldes e as rezadeiras tentando acalmar o peito.
As horas duravam dias e ela ia descobrindo que os clichês eram assim chamados por um motivo. E descobriu também que alguns desavisados confundiam clichê com a verdade.
Um dia, no entanto, o telegrama não chegou. A moça piorou muito, mulheres corriam pela casa com baldes de água morna e deixavam poças que mais pareciam sangue por causa do cimento vermelho. Na verdade, esse dia ainda é lembrado pela confusão causada tanto na casa como na cidade.
A doença da moça tinha se agravado de tal forma que ninguém percebeu o furacão que se aproximava. Os ventos sacudiam as cortinas e levantavam as saias das mulheres com tanta freqüência que os meninos da casa vizinha se enfiavam debaixo das anáguas enquanto brincavam de se esconder. A loucura era tanta que um dos meninos tentando se esconder sob a saia da mais velha acabou derrubando-a com o balde que trazia. Todas vieram ajudar e por alguns segundos a apaixonada ficou sozinha.
Alguns dias depois as crianças que brincavam em meio às folhas que voavam na praça acabaram contando que viram a jovem caminhar para fora da casa. Disseram que ela parecia em perfeita saúde, que pulava entre os rodamoinhos e, sem que eles soubessem explicar como, depois de uma rajada de poeira que os obrigou a fechar os olhos, ela andava de mãos dadas a um rapaz, que mais parecia um príncipe, em direção à saída da cidade. Sumiu para sempre.

sábado, 19 de janeiro de 2008

olhos verdes, olhos de cinzas

Era interessante como seus atos frente aos olhos dela deviam parecer tão cafonas. Para ela o sair, o andar, o desconhecido era fascinante. Perguntava-se o que deveria ter acontecido com ele, como aqueles olhos verdes se tornaram cinzas daquele jeito. Inexplicável. Será que ela também teria virado um ser irreconhecível, enrugado?
Ele se perguntava há quantos anos não se viam. Quinze, vinte anos? Uma vida. Aquela vida. As lembranças antes esquecidas lhe vieram à cabeça manchando a retina. Os dois eram jovens, por um descuido ela engravidara e por destino perdeu o bebê. A mente infantil lhes fechou e o afastamento foi natural. Ela foi para outra cidade com a mãe viúva, ele continuou por lá, sem saber o que fazer, sentindo saudade do que poderia ter sido. Agora tudo era um sonho efêmero.
Ela jamais esqueceu. Ele ainda estava marcado em seu peito. Tinha fugido de si mesma quando foi embora e, para se deixar para trás, era preciso que ele passasse a fazer parte do passado.
Hoje eram pessoas completamente diferentes. Ela sempre o chamara de “meu anjo” pelos olhos doces e os dedos macios, mas hoje ele não era mais um anjo. Afinal não existem anjos fumantes, que usam terno de lã e bebem whisky. Só existe lirismo na adolescência. Que encanto ele poderia ter agora? Existe espaço para a beleza no “normal”?
Ela também tinha mudado. Não se fixava em lugar algum. Sempre buscando algo e não tendo nada, tendo amigos para a vida inteira da última semana. Ele atado ao cotidiano e ela presa à necessidade de partir.
O que era inexplicável, no entanto, eram as mãos quentes e o coração querendo fugir do peito. A cada estação o vagão do metrô ficava mais vazio e a despedida ficava mais perto.
De repente ela veio andando em sua direção. Deixou os olhos deslizarem pelo chão, olhou para ele mais de perto e deixou o braço pender e as mãos se esbarraram meio por acaso. Ela deixou o vagão sem olhar para trás.
Ele se sentiu satisfeito pelo instante inexplicável, pela doçura das mãos dela que continuavam as mesmas. Ele não queria que virassem um desses casais amargos que precisam colocar a Certidão de Casamento na porta da geladeira para lembrar como o amor pode virar prisão e afogar.
Os anos passaram e a amargura inevitável estava nos olhos dos dois. Aquele encontro nada mais seria do que uma troca de olhares singela, um instante que provou que a doçura sai de algum lugar inexplicável e, junto com o lirismo, aquece os dedos.
Mas era para ser assim. Foi melhor assim. Foi melhor assim? A porta do vagão se fechou.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Ainda uma vez - Adeus!

Ao meu querido, adeus.

Por favor, sem lágrimas.
Dessa vez, sem lágrimas.
Você me conhece tão bem que já devia esperar. Estou partindo mais uma

vez.

Não fique assim, não seja criança, eu preciso desses dias longe. E, acredite, doerão mais em mim do que em você. Sei que é difícil entender minha necessidade de novos ares, mas só faço isso para depois, quando voltar, saber te apreciar ainda mais. É necessário.

Quero deixar claro que só você me faz feliz. Só quando estou com você eu acordo aos domingos sorrindo e olhando para um céu azul deslumbrante. Ninguém entende melhor minha melancolia do que você, só você é lírico como se deve, com esse seu jeito de menino preguiçoso que acaba me contagiando. Mas sem deixar de ser frio e amargo, às vezes.

Serão dias complicados, mas devemos saber viver por nós mesmos. Acho que o grau de dependência que eu tenho do seu calor não é normal. Preciso aprender a me bastar, meu caro.

Mas eu volto como de costume. Juro-te! Eu sei que você tem outros que te adoram e não se sentirá sozinho. Não quero que fique chateado porque, quando voltar com um sorriso imenso no rosto, vou querer de boas vindas uma brisa agradável me confundindo os cabelos. Daquelas que só você sabe fazer, meu amado Rio de Janeiro.

Vou morrer de saudade!

Beijos de quem te adora.