sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Carta para uma chilena

Monróvia, 1 de fevereiro de 08

Querida MJ,


Fico feliz em receber notícias suas, mesmo que isso ateste o quão confusa você está.
Até mesmo Dorothy, que tinha um lar longe de ser dos melhores, já dizia que “there’s no place like home”, mesmo Oz sendo um lugar lindo, com espantalhos falantes e beijos de uma bruxa boa do norte. Nunca dizemos “adeus” à nossa casa. Até porque ela está no coração dos românticos.
Ah, doce MJ, esses dias lindos em Casablanca são mais melancólicos quando estamos trancados em nós mesmos. Há tempo demais você está trancada sozinha. Cada vez menos aí e cada vez mais lá. Então volta para a água salgada, para os bares, para a rua vazia às três da manhã. Não se acanhe.
Acho interessante como você se diz vazia e esconde todo esse amor em si. O amor por esse lar que mesmo com o maior dos defeitos é seu. Você diz que não tem nada, que não vale nada, mas como diria Pessoa, eu aposto que, à parte isso, tem em si todos os sonhos do mundo.
Se você dia que mudou, eu tenho certeza que a doçura e o gosto pelo lirismo continuam os mesmos. Se diz não acreditar mais em paixões de metrô, dessas que pela velocidade do turbilhão grudam nosso estômago nas costas, é porque o apreciaria com mais delicadeza. Pode me chamar de otimista e eterna apaixonada pela vida e pelas esquinas, mas essa sua descrença se resolve com um sorriso ou um olhar dos meninos do Arpoador. Volta para casa, e marque um encontro urgente com você mesma.
Você não está áspera ou azeda, só mais seletiva, ma chére. Não entendo porque fugir tanto se foges de você mesma. Se não confia em mais ninguém é porque não confia mais em você mesma. Não eram os ares do Leblon que não mais te agradavam, alguém que com azedume encobriu o sol e te fez fugir para um retiro; e ainda te roubaram Paris nessa Casablanca desalmada.
Se suas palavras continuam mergulhadas em mel, como você pode dizer que tem o coração amargo assim? Você transborda esperança. Essa é sua cólera: sua esperança brigando com a decepção.
Volta com seus cabelos vermelhos que as minhas unhas cor de sangue, escarlates, te escrevem a última carta dessas terras africanas e diz que também está voltando. Porque meu coração não agüenta de saudades dos cabelos jogados nas cangas e das risadas que ecoam entre os prédios de madrugada.
E eu repito: que os clichês invadam, que por acreditar neles nós sejamos os seres mais previsíveis da terra... Quem liga?! We just wanna breath that fire again. E sim, clichês são assim chamados por um motivo; e são deliciosamente saborosos.


Com muita da saudade que possuo,

Tereza

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